A Assembleia de Nampula acontece num contexto em que o País está mergulhado em tensão política e militar que atingiu proporções alarmantes e profundamente ameaçadoras do processo de reconciliação, consolidação da Paz e aprofundamento do processo democrático, cujos impactos são severos na vida de milhares de camponeses e camponesas, particularmente nas regiões de maior incidência do conflito. Por outro lado, a marginalização e total exclusão dos camponeses na definição e priorização das políticas de desenvolvimento, com particular enfoque no sector agrário; as violações sistemáticas dos direitos de camponeses sobre a terra pelos mega projectos de mineração, hidrocarbonetos, agronegócio e demais projectos de investimentos públicos e privados; as sucessivas tentativas de determinados sectores do governo e não só, de rentabilização e privatização da terra, representam para nós camponeses e camponesas uma emergência nacional, para a qual somos chamados a nos posicionar e endurecer a nossa resistência e pautas de luta.
Dentre outras questões de fundo da vida do movimento camponês e do País, a Assembleia de Nampula analisou e aprovou importantes instrumentos estratégicos, com destaque para o Relatório Anual de Actividades e Contas de 2013, o Plano Anual de Actividades de 2014 e o respectivo orçamento. Igualmente, mereceram atenção e discussão profunda a actual situação político-militar e seus impactos na vida dos camponeses e na produção agrícola; o Programa ProSavana e as estratégias camponesas para o seu enfrentamento e mecanismos de resistência das comunidades camponesas do Corredor de Desenvolvimento de Nacala e do movimento camponês como um todo; conflitos e crescentes processos de usurpação terra em Moçambique; situação das calamidades naturais; impactos perversos dos mega projectos e desenvolvimento nas comunidades do País; agricultura de conservação e sementes em Moçambique, a Política de Género da UNAC, Plano Nacional de Apoio a Agricultura Camponesa em Moçambique e Ano Internacional da Agricultura Familiar e seu significado para as famílias camponesas.
Depois de a UNAC e mais de 20 organizações nacionais terem dirigido uma Carta Aberta para Deter de Forma Urgente o Programa ProSavana aos Presidentes de Moçambique, Brasil e ao Primeiro-Ministro do Japão que ainda não foi respondida, durante a Assembleia de Nampula, lideranças camponesas de todo o País, homens, mulheres e jovens, reafirmaram a sua negação ao Prosavana, estabelecendo um roteiro e pauta de resistência de dimensão nacional.
Nós, camponeses e camponesas, denunciamos e repudiamos os actos de perseguições, intimidações, aliciamentos e manipulações contra os camponeses e camponesas individuais, lideranças de camponeses nos distritos abrangidos pelo Prosavana e lideranças nacionais, actos estes, protagonizados pela equipa de implementação do Prosavana, administradores distritais e altos dirigentes nacionais. A Assembleia de Nampula, decidiu comunicar que, a União Nacional de Camponeses não vai tolerar mais estes actos e promete processar judicialmente os promotores e protagonistas de tais acções, sejam cidadãos moçambicanos ao serviço do Governo ou cidadãos de nacionalidade estrangeira.
“Nos distritos de Gurué e Alto Molocué os camponeses e camponesas estão a ser prejudicados pelas empresas, empurrando-lhes para um cenário de miséria e fome por causa das empresas, em 1975 o País conheceu a Independência e paz, mas hoje as comunidades estão novamente mergulhadas num cenário de opressão pelas empresas e pelo Governo. Um dos administradores informou que vai mandar para a cadeia as pessoas que tentassem falar mal do Prosavana.”
Durante a Assembleia de Nampula foi apresentado e discutido o draft do Plano Nacional de Apoio a Agricultura Camponesa, uma proposta de política agrária de camponeses e camponesas, membros da UNAC e articulados pela UNAC, a ser submetido ao Governo de Moçambique. Este Plano visa o preenchimento do vazio deixado pelos instrumentos de operacionalização do Plano Estratégico de Desenvolvimento do Sector Agrário (PEDSA 2011-2020), orientando-se por uma abordagem multi-sectorial e focada nos sistemas de produção camponesa. O mesmo vai responder as demandas soberanas das famílias camponesas relativas à produção de sementes nativas e resistentes às mudanças climáticas; serviços públicos de extensão agrária baseada na valorização do saber, cultura e experiência dos camponeses e camponesas; aproveitamento do potencial de irrigação; construção e reabilitação de infra-estruturas ligadas à criação de capacidade produtiva, definição e adopção de modelos eficazes de facilitação de crédito agrícola, garantindo deste modo, a soberania alimentar e alimentação adequada para os moçambicanos e moçambicanas.
Nas discussões sobre a Política de Género da UNAC, o movimento camponês considera a inclusão da questão de igualdade de género nas políticas públicas do sector agrário e nas acções do movimento imprescindível para o desenvolvimento inclusivo e sustentável da agricultura em Moçambique.
A actual situação político-militar que o País vive mereceu, igualmente, a nossa atenção e análise durante a Assembleia anual de 2014. Os camponeses e camponesas dos distritos de Machanga, Chibabava, Maringué, Gorongosa, Nhamatanda e Dondo em Sofala; Moatize em Tete; Macossa em Manica; Rapale e Mecuburi em Nampula; Homoine e Funhalouro em Inhambane, viram a primeira época agrícola completamente comprometida ou quase nula e a esperança reside na segunda época agrícola com o aproveitamento das zonas baixas.
Exigimos às partes beligerantes a cessação, imediata, das hostilidades, abandonando a via armada, como única alternativa para resolução das divergências em disputa. É imperioso o fim de todos os ataques e confrontos militares que em nada contribuem para o desenvolvimento da agricultura camponesa e soberana, muito menos no bem-estar social dos Moçambicanos e Moçambicanas. De igual modo instamos às partes para que restabeleçam o mais urgente possível mecanismos mais alargados, inclusivos e efectivos de diálogo transparente e democrático.
Na luta do Povo ninguém se cansa! Com os nossos sacrifícios iremos alcançar os nossos objectivos e as conquistas que pretendemos. Quanto a nós, camponeses e camponesas de Moçambique, o nosso compromisso de luta pelo desenvolvimento da agricultura camponesa permanece firme como sempre o foi desde os difíceis momentos de luta de libertação nacional até aos dias de hoje. De enxada na mão e com os pés firmes na terra sonhamos por um Moçambique viável e melhor, onde todos possamos sentirmo-nos filhos e filhas de camponeses e camponesas desta pátria, pela qual lutamos e libertamos!
Camponeses Unidos, Sempre Venceremos!
Nampula, 01 de Maio de 2014
UNAC
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