Existe aquele famoso provérbio
que diz “não faz ao outro aquilo que não
queres que a ti seja feito” que
hoje, porque bonito no seu palavreado, no poder e no significado é deveras
cantado. Entretanto, o mesmo contradiz totalmente com a nossa prática, sem
excluir a ninguém. Para os muçulmanos, como eu, tem o hadithe (palavras) do
Profeta Muhammad (paz de Deus esteja com ele) Segundo o qual “ninguém é verdadeiramente crente até que
deseje a seu irmão o que deseja a sua própria pessoa”. A contradição com a
prática deste palavreado, acordado e subscrito pelo menos, no tanto que
palavras (passa repetição), por muitos de nós, ou melhor, quase todos nós.
Hoje, dia 30 de Abril de 2014, me
dou por feliz e com direito a um sorriso enorme porque consegui, talvez a
primeira vez, mas com o sonho de assim continuar, contornar o maquiavélico
hábito de quase todos nós. Melhor, me excluindo, porque pelo menos agi
diferentemente, quase todos vocês. Não quero me passar por orgulhoso, mas,
tomar a oportunidade do momento para provocar um pouco a todos a uma pequena
reflexão, a que tenho levantado nos últmos anos por estas datas, sobre os
direitos dos trabalhadores.
Ontem, dia 29 de Abril de 2014,
fiz uma marratona longa e extremamente cansativa, de Tete a Changara, e
sub-viagens (longas e conturbadas) dentro do distrito de Changara no contexto
das aventuras da minha profissão. Efectivamente consegui chegar a Cidade de
Tete apenas por volta das 20h, tendo ido directamente ao restaurante para o
jantar e de lá directamente a cama, quase que morto de cansaço. Fui a cama com
plano de acordar cedo para dar continuidade a minha jornada profissional um
pouquinho em Tete, para seguir a Cahora Bassa (Estima), não muito diferente a
jornada do dia 29. Estas todas viagens, me são garantidas confortáveis nas mãos
do Senhor Siguante, de idade aproximada aos setenta (70) anos. O Senhor
Siguante, durro na queda, trabalhador forte e orgulhoso idoso que é, conduziu-nos,
a mim mais outros meus colegas em toda jornada do 29 de Abril.
Hoje, meu colega Fernando me
comunicou uma dificuldade em iniciarmos com os trabalhos a hora inicialmente
prevista devido a um imprevisto que involveu alguma actividade do Senhor Siguate
e, porque já não se teria certeza da possibilidade mesmo de contar com o apoio
deste em virtude da necessidade de se apoiar a outras actividades da nossa
empresa. Eis que, após umas concertações recebo do colega Fernando duas
notícias, uma boa e outra má, a volta do mesmo assunto. Teriamos a
disponibilidade da viatura para viajarmos a Cahora Bassa e dar continuidade aos
nossos planos. Sem dúvidas, essa era uma boa notícia uma vez que precisavamos
de assegurar algumas actividades extremamente importantes por aquelas bandas. Entretanto,
o grande Siguate, mais velho iria nos levar de novo. Ora, a minha primeira
reacção foi de satisfação, entretanto quando voltei a consciência sobre a idade
do velho motorista, a marratona de ontem e, ainda o ter ouvido que ele tivera
que fazer mais trabalhos após nossa tardia chegada de ontem, algo me encomodou
bastante que não deixaria a minha consciência livre.
Perguntei ao mais velho de como
se sentia após aquela toda marratona, ao que ele me respondeu sem sobressaltos “o que fazer meu filho... estou um pouco
cansado... ontem praticamente não pisquei o olho”. Isso, de facto me deitou
um cala-frio, a minha adrenalina subiu de zero a cem em poucos segundos, tinha
quase todo o sangue na cabeça devido ao choque que recebi com a resposta. Quando
aparentemente tudo voltava ao normal voltei com a questão para o Fernando em
gesto de confirmação, ao que este me garantiu a verracidade do que acabara de
ouvir. Ainda, o Fernando, acrescentou em retórica “não recebeu a mensagem que lhe enviara esta manhã sobre carros?”.
Afinal era mesmo verdade, ai fiquei mesmo com as mãos trémulas, minha voz se
afinou no tom e subiu no volume, meus pés não pisavam no chão de tantos
movimentos feitos num tão pequeno espaço. Cá por dentro de mim vinham palavras
como “não, so pode estar a brincar comigo...
what is this?... estamos a brincar ou qué?” entre outras. De facto tinha
que dizer efectivamente alguma coisa e, ai libertei-me, “isto é uma clara violação do direitos do trabalhador”.
Logo fiz proposta ao Fernando
para que nos conduzisse e deixar o Senhor ir descançar que já se reclamava do seu estado
físico após marratonas de ontem. Mas o Fernando não tinha muito a dizer,
precisaria de autorização do Administrador da empresa. Sem dúvidas que acima de
tudo, estava a questão da segurança de todos nós viajantes, incluindo o próprio
mais velho quese encontrava numa situação de cansaço, estradas com muitos
burracos e assim como o horário dos trabalhos, estando já imaginável que
teriamos mais um dia longo. Entretanto, o Administrador não cedeu as
reclamações. Outro colega, o Esteves, entrou em mais uma tentativa com o
Administrador que não deu certo. Aí decidi tomar o número do Administrador e
ligar para falar pessoalmente os meus sentimentos, pensamentos seja lá o que
for, mas não podia deixar assim barato.
Efectivamente pus-me em contacto com o Administrador para propor duas
alternativas, ambas com algo em comum: o Senhor Saguate não iria conduzir de
forma alguma e, voltaria para sua casa para descansar.
Não é de admirar que, de repente
o Senhor Siguate se mostrou naquele momento disposto a viajar connosco. De
facto, estariamos a mexer com a máxima chefia dele e, como tantos trabalhadores
que não se atrevem a reclamar qualquer tipo de violência contra a sua pessoa e
sua integridade, temeria represálias. Mas como desse jogo ninguém me trai, não
permitiria que coisa igual seja feita a mim e, assim também não queria ser
conivente em tanta imbecildade, contextei.
Na minha conversa, que após o
choque não teria possibilidade de ser diplomática, sobretudo quando se trata de
um Senhor Idoso, elaborei os três pontos (cansaço, idade e segurança) e duas propostas
de saída sem descartar a questão da ida a Cahora Bassa de como estava
inalteravelmente planificado. Assim, seria que “um outro motorista, incluindo alguém de nós em viagem, conduzuria a
viatura” ou que “ não havendo
flexibilidade na política da empresa nesse sentido, iriamos de Taxi”. Mas é
que eu estava mesmo disposto a mexer com tudo e todos para garantir que o Senhor
Siguate não entraria naquele martírio de exploração. Depois de um bate-boca, tensão alta e baixa,
adrenalinas se transformando palavras, clima mesmo de furrar os micros dos telephones,
chegamos ao acordo desejado. O grande homem, mais velho, valente e lutador
trabalhador, Senhor Siguate iria ter o seu direito ao descanço após intensas
horas de trabalho. Minha grande alegria, fiquei feliz de que afinal com um
pouco mais de persistência não seria mais um dos exploradores daquele trabalhador,
mais humilde que eu, mas um defensor de sucesso. Meu grande surriso me encheu a
cara, porque amanhã se celebra o dia de todos os trabalhadores no mundo inteiro
como forma de fazer valer os nosso direitos e o combate a todos os tipos de
exploração do homem no sector do trabalho.
“1. O período normal de
trabalho não pode ser superior a quarenta e oito horas por semana e oito horas
por dia.
2. Sem prejuízo do disposto no
número anterior, o período normal de trabalho diário pode ser alargado até nove
horas, sempre que ao trabalhador seja concedido meio-dia de descanso complementar
por semana, além do dia de descanso semanal prescrito no artigo 95 da presente
Lei.” (Art 85 da Lei no
23/2007 - Lei do Trabalho)
Disponível no seguinte
endereço: http://www.mitrab.gov.mz/Documentos/Legislacao/Lei%20do%20Trabalho.pdf
Sem duvidas, o texto apresenta alguns erros ortograficos e outros mesmo de apresentacao de ideia. Mas queria com este deixar passsar a minha pequena preocupacao com os direitos dos trabalhadores como eu
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