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Quando e Onde Buscar Informação Relevante na Nossa Sociedade?


Virou mania ler-se nos artigos dos nossos jornais (por vezes os mais importantes destes) sobre a vida dos nossos quadros da arena política. Nisto é mais fácil saber da vida dos políticos que das suas responsabilidades, missões cumpridas e missões não cumpridas. Não restam dúvidas que o comportamento e discuros dos políticos formam contributo significativo na definição e análise das políticas públicas (Botha, 2009), porém esta forma de trabalhar dos nossos médias, tende a desviar a opinião pública daquilo que devia ser o seu foco na avaliação do desempenho dos nossos quadros para meras fofocas. Neste artigo pretendemos suscitar um debate sobre a forma tendenciosa de trabalhar dos nossos médias, tomando em foco o seu papel definido na ciência política e uma análise crítica de ordem filosófica na sua argumentação.


 O Papel dos Órgão de Comunicação Social no Contexto da Política

Teóricamente, os órgãos de comunicação social, vistos no contexto da ciência política,  formam parte essencial da opinião pública e podem influenciar de forma significativa na definição de políticas públicas. As reportagens por exemplo, são uma fonte muito importante da opinião pública, e, tal como os editoriais, tem também o efeito de influenciar as outras fontes da opinião pública. Thomas R. Dye, mesmo defendendo que a elite responsável pelo desenvolvimento e implementação das políticas situa-se na melhor posição de influenciar a opinião pública (pelo maior conhecimento e domínio destas em relação ao público), concluiu dos seus estudos que os médias podem criar novas opiniões muito mais facilmente e assim como fortificar os valores e atitudes da sociedade (Botha, 2009).

O comportamento dos órgão de comunicação social, em tanto que informação que articulam pode contribuir para uma boa convivência entre os governantes e a nação como para um efeito contrário. Por esta razão, alguns governos que estão a par deste fenómeno, pautam pelo controlo e limitação do trabalho dos órgãos de comunicação social. A informação que circula de forma dominante pelos órgão de comunicação, tende a se cosntituir a verdade na opinião pública.


E Quanto a Informação Dominante nos Nossos Médias

A nossa imprensa escrita é dominada por informações ou desinformações sobre assuntos particulares da vida dos nossos quadros da arena politica. Deputados que abusam de regalias, filha de Presidente fulano que abriu empresa X, fulano que abre sociedade com beltrano, cicrano que ficou PCA da empresa Y, etc. são as notícias mais importantes dos nossos nossos jornais. Sem querer excluir casos de corrupção divulgados na ausência de informação comprovativa. Nisto não queremos de forma alguma descartar e desincorajar o papel de monitoria e advocacia que os médias jogam na sociedade, sobretudo na promoção de comportamentos de responsabilidade na classe dos dirigentes. Por exemplo, pressionar certas instituições ou responsáveis tomem medidas, entrem em acção ou mesmo corrigir certas atitudes em casos mal parados é algo a atribuir mérito a média, e neste último ramo tem feito bastante, mas é necessário ter-se cuidado entre aquilo que deve ser do domínio público com o é privado em relação aos indivídous.

Diz Mello (2009) que “o respeito pela vida privada  constitui um direito adquirido pelos membros das comunidades humanas, sobretudo as mais evoluídas, muito embora nem sempre seja observado” e acrescenta que “
quando se trata de gente desconhecida, a infracção ao princípio pouca relevância consegue obter... [mas quando se trata] de figuras públicas, já não será assim. E será tanto menos assim quanto mais mediáticos forem os cidadãos objecto da coscuvilhice alheia.”

Ora, vamos tornar claro que assumimos o posicionamento utilitarianista da clássica ideia do grande filósofo que foi o Aristóteles. Segundo este pensador, e no sumário da nossa percepção, tudo fazemos para alacançar a máxima felecidade nas coisas, e esta dependende efectivamente da virtude das coisas. Assim, as coisas só devem ser reconhecidas na sua máxima utilidade, onde a sua virtude se encontra. Nesta ordem de ideia, um soldado deve ser respeitado e alocado no campo de guerra e não na machamba, pois é lá onde reside a sua virtude e não aqui (na machamba).

Vimos que no campo da política comunicadores sociais têm um papel importante a jogar, capaz de promover mudanças comportamentais significativas no interesse do público, no entanto a realidade da sua actividade nos nossos dias tem se mostrado deveras distante daquilo que se devia esperar. Lê-se nos nossos jornais o não diferente da conversa dos bazares, dos chapas ou mesmo dos salões cabelereiros. Para alêm da violação da vida privada dos indivíduos, os nossos comunicadores tendem a desviar a atenção do público das questões de vital importância que se escondem nas responsabilidades dos dirigentes públicos, desperdiçando, por seu turno a sua máxima utilidade – no garante de informação pertinente e relevante para com a vida do cidadão que busca informação destes órgãos.

Enquanto lutamos pela liberdade de imprensa, que é extremamente importante na construção e consolidação da demo-cracia, os nossos órgãos vão tomando cores políticas e identidade por DNA de certas individualidades interessadas nos assuntos políticos. Acreditamos que numa aboradagem capitalista pura, os órgãos de comunicação social devem esforçar-se na busca de máxima informação possível para arrecadar maior audiência e portanto receitas a grande escala, no entanto, com esta realidade chegamos a duvidar que estes nossos órgão se sustentem por mérito de trabalho profissional da arena da comunicação social, ou por outras, que estes órgãos sobrevivem a custa do consumo dos seus serviços pelo público. O contrário estariamos a assumir que o nosso público tem a vida boa demais para perder suas quinhentas e tempo na busca de informação sobre a vida particular de certas individualidades.

Em conclusão
Não restam dúvidas que os órgãos de comunicação tem um papel importantíssimo a jogar na arena político-pública na promoção de (e advocacia por) comportamentos responsáveis tanto nos dirigentes como do público geral. Mas, este papel tem sido disperdiçado na demasiada concentração destes órgãos na vida privada dos participantes privilegiados da esfera política, o que por sua vez viola os princípios básicos da ética profissional da comunicação social. Por outro lado, os órgãos vão perdendo relevância no quotidiano do público, pois pouco retratam daquilo que seria do interesse do cidadão comúm. Por vezes, mesmo que as informações veiculdas nestes órgãos seja relevante, a confiança do público na sua veracidade pode custar muito trabalho dada perda de identidade do público com estes órgãos que tendem a se definir nas cores e nos DNA de agramiações políticas e individualidades. É urgentemente necessária a revisão do papel dos nossos órgãos de comunicação e acima de tudo do grupo alvo que pretendem abrangir de modo a que reportem informação de interesse do público e não de particulares.

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